quarta-feira, 28 de abril de 2010

CAPÍTULO II

Dessa vez ele estava certo. João Carlos da Silva. Era esse seu nome e estava lá, na lista dos aprovados.

Não era a lista de uma universidade pública (fato que não fazia a menor diferença para ele), mas era uma particular bem conceituada. A sua parte ele fizera, independente da sua dificuldade na redação e do ensino escolar ao qual fora submetido, ele havia conseguido ingressar no ensino superior. Seus pais tinham agora a obrigação de pagar a mensalidade, coisa que João Carlos sabia não ser problema algum para eles.

Todo o “rito de iniciação” foi cumprido: primeiro, comemoração com os amigos, muita cerveja e nenhum cabelo; depois, trote na faculdade, nenhum amigo (ainda) e muita diversão para os veteranos. Foi nesse mesmo ritmo de farra que João Carlos iniciou suas aulas. O objetivo era curtir a vida universitária ao máximo.

Nas aulas, os professores apresentavam para aqueles recém – universitários; teóricos desconhecidos, textos com vocabulário incomum, regra para fazer isso e aquilo. João Carlos sentia um misto de pavor e prazer com todas essas novas coisas. As provas e os trabalhos, marcados aos montes e nos primeiros dias de aula, as farras também marcadas aos montes e em quase todas as noites. Eram muitos textos para ler e muitas cervejas para beber.

Foi por causa de um desses trabalhos que João Carlos conheceu Karl Marx, (antes ele sabia quem era, e, por ouvir dizer, sabia de alguns ideais marxistas, mas nunca tinha lido nada de Marx) e, logo de início o calouro já começou a se dizer marxista. Chegou a pensar na idéia de adquirir um volume de “O Capital”, mas voltou atrás ao pensar em quantas cervejas poderia tomar com o dinheiro que gastaria para comprar tal livro. A princípio, ficou com as cervejas e o exemplar baixado da internet.

As farras também lhe trouxeram boas coisas. Bons amigos e algumas mulheres. Ele não era um cara lindo, mas chamava a atenção das meninas. De algumas, provavelmente pelo carro que ganhara de presente dos pais por sua aprovação no vestibular.

Para cima e para baixo, por um bom tempo, João Carlos sustentou um sorrisinho de vitória no canto da boca. Curioso, esse sorrir de canto de boca o deixava muito parecido com o avô.

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